quarta-feira, 27 de abril de 2011

O autoritarismo e as teses canhestras de Requião sobre o jornalismo


O senador Roberto Requião (PMDB-PR) protagonizou um episódio deplorável na tarde de segunda-feira (25). Durante entrevista ao repórter Victor Boyadjian, da rádio Bandeirantes, na qual falava sobre a inflação, Requião foi questionado três vezes seguidas pelo jornalista se, para reduzir as despesas públicas, abriria mão da aposentadoria vitalícia de R$ 24.117,62 que recebe como ex-governador do Paraná. Após a terceira pergunta, Requião simplesmente tomou o gravador das mãos do jornalista. O diálogo é o que se segue:

Boyadjian: – Não, calma, não estou mais gravando!
Requião: – Já pensou em apanhar, rapaz? Já pensou em apanhar?
Boyadjian: – Não, peraí, deixa eu desligar…
Requião: – Não vai mais desligar porra nenhuma. Vou ficar com isso aqui.

Após a inusitada situação de ver um senador da República se apropriar de seu gravador, o repórter procurou registrar queixa, mas não conseguiu, como conta o Congresso em Foco:

A denúncia de violação por parte de Requião não encontrou respaldo no Senado. A Polícia Legislativa do Senado disse que está impedida de formalizar denúncia contra o parlamentar, alegando ser esta uma atribuição da corregedoria da Casa, como define a resolução número 17/93 da Mesa Diretora. O detalhe é que a corregedoria, que teoricamente é responsável por apurar desvios de senadores, está desativada desde outubro.

Depois disso, o show de Requião se transformou em uma mistura de autoritarismo e desconhecimento sobre o funcionamento de uma imprensa livre. Após a repercussão do fato, Requião devolveu o gravador ao jornalista, mas sem o cartão de memória onde estava a entrevista concedida por ele e as outras feitas pelo repórter. Em sua conta no Twitter, o senador afirmou que iria deletar o arquivo. Em seguida, conta o G1, Requião escalou o filho para devolver o cartão, e postou o áudio na internet.

O filho do senador, Maurício Tadeu, foi o responsável por entregar o cartão e responder às perguntas dos jornalistas no gabinete de Requião. Perguntado sobre o motivo pelo qual o próprio Requião não fez a devolução, o filho do senador disse que não era responsável pelo gabinete do pai. “Não respondo pelo gabinete. Vim ‘de boa’ devolver o cartão de memória para o jornalista. O senador não se encontra. Ele já saiu”, afirmou Tadeu.

No Twitter, Requião desenvolveu teses canhestras sobre a atividade da imprensa. Ao divulgar o áudio, disse que no link estava a entrevista que ele “não quis que a Band divulgasse”. Ora, se não queria uma entrevista sua divulgada, o senador não deveria ter concedido a entrevista. Se achou que foi provocado, poderia simplesmente se recusar a responder uma pergunta, direito reservado a ele e a qualquer outro brasileiro. Se, após concedida a entrevista, não queria que ela fosse divulgada, Requião praticou censura. O fato de divulgar o áudio depois de toda a repercussão não muda o fato de que ele se apropriou de uma entrevista que pertencia à rádio Bandeirantes (e não a ele próprio, como alega Requião), impedindo a emissora de divulgá-la.

O Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal prometeu entrar com um processo por quebra de decoro parlamentar contra Requião. Resta saber se o corporativismo e a ineficiência do Senado vão se sobrepor à obrigação desta instituição em defender o livre trabalho da imprensa.


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